20130215

As SS - parte I


As SS
I
                Por mais disparates que se pensem e passem a escrito, nunca a tolice ou o carácter insondável do mundo darão descanso a pessoas que buscam constantemente perceber, compreender.
A partir das suas experiências e dos seus olhos tentam primeiro vogar sobre a dúvida metódica e em idade adulta sobre a suspeita que tudo passa a cobrir como manto verde de erva fresca.
Não deixamos de procurar o tesouro ou a Hidra que nos petrifica, seja a arrogância, a curiosidade genuína ou a mera ingenuidade que nos motivem as velas enfunadas.
Acredito que nada faz sentido se não for compreendido. Tenho de compreender, mas como rabo de cão, sempre me foge a apreensão do fenómeno observado, não apenas longe das minhas capacidades apreensivas, pois como luz de vela sempre se pode dar luz a um quarto, e depois a outro  e a outro deixando os anteriores na escuridão assim que a luz deles de novo foge. Não, os quartos são sempre os mesmos e são sempre outros, sempre feitos de paredes que nunca estão no mesmo sítio, que não me deixam duvidar da minha razão, mas também não lhe dão muito brilho no uso da sua luz. A procura de uma verdade inamovível com que virar o mundo, é também cepa torta na minha vinha, pois com a mesma pressão sei que o mundo joga comigo não se deixando apreender e que só através do meu pensamento esgravatando nas frestas do paredão da barragem, posso ter a ilusão de ver a albufeira que se adivinha por trás.
Mas ouço sons, repetidos, que se tornam melodias. Reconheço padrões geométricos e de cor, variações de temperatura na minha derme assinaladas, cheiro aromas associados a outros estímulos, reconheço encadeamentos de pensamentos como necessários, e choro sabendo que tem de haver uma estrutura por detrás destas coincidências que se repetem.
Tenho pesadelos à noite pensando que depois de tanto esforço só vou chegar à mesma superfície daqueles que passam pelo mundo numa base de imediato e tangível. Angustiado, não porque me sinta melhor que os outros mas porque o apelo de chegar ao coração das coisas é tão forte quanto o corpo de uma bela mulher que me faça latejar por uma celebração de vida.
A minha vinha tem vinhas e uvas como as outras vinhas, bem espremidas dão um entranhado mosto que irá parir um vinho, como parem os outros mostos. Sei que as castas diferem, a poda e os adubos também, mas no final sai ou vinho ou vinagre. Por melhor que se enxerte, depende da água que cai, e do Sol que arde. Depende do sabor do vidro, e do palato do provador, e de tantas outras estrelas que o que interessa mesmo é a vindima, pois só se sabe  o valor da colheita depois de se tirar a última rolha.
II
Adoro mulheres. Considero-as maravilhas da Natureza, poços de força, e a maioria dos meus heróis são do sexo feminino. Mas que mulheres são essas que motivam a escrita de meia dúzia de páginas de texto,  de volta da mesma enxertia de sempre, da mesma casta do mesmo cacho, de forma a perceber até ao ínfimo pormenor como surge o estranho vinho que recolhemos em colheita anterior? Há que perceber, sempre, o como e o porquê. Especialmente se a suspeita filosófica te revela que nada é o que parece, e que por detrás da aparência há uma intenção. A intenção, mais que o véu de Maia, é a paixão do revolucionário. E só o homem é revolucionário, e só o consegue ser sozinho. Não há diferença de valor civil ou antropológico entre homens e mulheres, nem sequer moral. Há homens ‘bons’ e mulheres ‘boas’. Mas como se testa o carácter de determinada cepa senão a plantando em socalco irregular e arenoso para ver com que raízes se agarra à vida e frutifica? Alfa e Omega em parada nupcial, e esmagamento nervoso. Suponho que a afirmação da raiz de cada um se faça à conta da vontade com que fazemos crescer as nossas ramas para o lado da nossa vontade e não da determinação da poda. Não é orientar os cachos para onde sopra o vento, de facto o que nos faz humanos é vivermos e morrermos por opção por ideias. Há qualquer coisa de nós de caçador, e de recolector. Um faz a sua sorte, outro aproveita-a.
A filógenese ratifica as duas. Também a sociedade dos homens e das mulheres.
III
A mulher sempre foi um  poço de assomo para mim. Sempre senti nelas uma diferença diferente da minha. A sua convicção nos momentos presentes sempre teve em mim um efeito narcoticamente hipnótico.  Como se nunca pensassem que podia estar alguém por detrás da cortina.
Começa logo por aí e pelos discursos maternos a divinização do feminino, aos olhos de um rapaz a certeza da rapariga tão mais avançada no crescimento que ele próprio só pode ser emanada de um ser superior. A mãe também diz que as meninas são de algodão doce e caramelo, e os rapazes de cobras e pedras,  e cresce o pobre homem sentindo que tem de merecer o ser superior que começa desde o berço a perceber que com sorrisos e choros pode levar o paizalhão a pegá-la ao colo ou a mostrar-lhe o maior sorriso do mundo. Com um pouco mais de tempo tem o adulto domesticado ao sabor da maior parte dos seus caprichos, pois que mais quer um pai que proteger a filha do mundo duro  e ensinar ao filho quão duro o mundo é?
Entra na adolescência o rapaz a toque de punheta, suando acne por todos os poros do seu corpo inadequado, violado por revistas pornográficas omnipresentes, mini saias constantes, anúncios estimulantes para delícias nocturnas e toda uma cultura que coloca a masculinidade na proeza de satisfazer sexualmente o sexo feminino, ou no mínimo na capacidade de lhe obter os favores?
O próprio pai se baba se o filho já colecciona namoradas pelas casas dos amigos, mas prefere negar tal liberdade à filha que é mais pura que a água de nascente.
A ninfeta descobre que um peito que desponta como um broto primaveril num pomar de romãs exerce um fascínio sobre qualquer homem, mais ainda que as farsas que representava para o pai, e assim começa a sonhar que tem um talento, herdado da mãe, que é mágico, e que é conseguir o que quer de outros seres que não possuem a beleza que ela tem.
Presas quer ele quer ela de uma antropogénese incompatível com a cultura que nos molda, ele com instinto copulatório  vinte vezes superior por causa da testosterona e ela por causa do estrogénio condenada a ser fraca fisicamente tem de se valer do que a Natureza a fez valer, e é essa sensação de possível submissão que faz brotar a ilusão de guerra, na qual o homem perde pois só tem acesso à vagina através da dança que a mulher ordena dançar. Afinal a vulva é dela, e se ele quer, tem de ser à maneira dela.
Torna-se assim a tolice da guerra dos sexos, a não existência mais existente de todas, pois onde quer que encontremos uma mulher e um homem, ela vai ocorrer, mas eis que surge uma aurora, mais dourada que as anteriores, e que coloca uma outra perspectiva. Mercê do seu génio, o homem possibilita a vida, de forma diferente que a mulher uterina. Ele faz, inventa e protege, e sente-se bem assim. Mas a acentuada percentagem de conforto actual tornam o homem supérfluo, a mulher não precisa dele para atingir o grau de conforto já bem aceitável que ela tem. A mulher encontrou um lugar no mercado de trabalho de forma a libertar-se da dependência financeira do homem, os serviços são dela.
Que pode o homem oferecer senão a gradual submissão à toda poderosa vulva?
Às mulheres urbanas de hoje em dia, não chega submeter o homem, há que humilha-lo. Não chega a ser um ser em grau de igualdade, é um porco porque lhe deseja o corpo, como tantos outros com os quais mediu forças ao longo do processo de crescimento de maminhas e ancas voluptuosas. É um básico que só me quer pelo corpo, então quer-me usar como depósito de esperma, mas vou eu usá-lo como eu quiser, veremos quem é o mais forte. Irónico ter-se tornado o homem em troféu de caça por causa da hormona que o fez caçador e protector dos seus.
A mulher sente-se no topo do mundo, os homens depilam-se para lhe agradar, usam cremes, cantam pop, as pussycat dolls elevam exponencialmente pelos media a glorificação do poder sexual que a mulher tem, único aliás a par do condicionamento das crianças.
Nãda há que não se venda que não envolva uma mulher em trajes menores, e até há estudos de género que lançam suspeitas na ciência feita só porque foi feita maioritariamente por homens.
Há noites de ladys nights em que os trouxas pagam e as mulheres isco não, e até nos casamentos já é suposto um homem ajoelhar-se e abdicar de parte do seu rendimento sobre a forma de um adorno, anel, para ter a honra de desposar uma vagina sobreinflaccionada.
Um marciano diria com o seu olhar objectivo, que de facto, o homem é o ser mais bem domesticado do planeta.
IV
É fácil, se seguirmos uns princípios e alguma experiência (para limpar a merda que nos enfiaram na cabeça, que se designa por ‘endoutrinação’) perceber como e porquê somos manipulados. Ao fim de algum tempo começamos a reconhecer padrões e sintonias.
A manipulação é uma influência exercida por comunicação de molde a levar outrem a fazer ou algo que não quer ou resiste, ou que o emissor quer que o receptor faça, de forma alheia à sua vontade. E é aqui que a porca torce o rabo.
O manipulador encontra sempre um interesse para o outro na manipulação que nele opera. É o que se parece com o branqueamento da manipulação para que quem manipula não se sentir um filho da puta ou uma filha da puta.
Várias razões podem basear este mecanismo de protecção, experiências passadas, uma certa mundividência, uma conveniência, a arrogância de achar que sabe mais que os outros ou mesmo mau carácter, entre outros.
Experiências passadas como se me fizeram a mim vou fazer a outros ou nunca mais vou sofrer; certas mundividências nas quais o mundo é assim, toda a gente sabe, etc. ; conveniência porque eu gosto de fazer mas não que me façam a mim, etecetera etecetera, e atenção que é válido para homens e para mulheres.
O que para mim sempre mais me interessou, foi a questão das experiências passadas e da mundividência.

Como é que alguém chega a determinado tipo de comportamento e como é que depois o justifica.
Isso fica para depois deste preâmbulo, na parte dois.

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