Como soluço chorado no peito da noite espreito a janela do
teu quarto onde desejava estar a fazer amor, a macerar o meu corpo em espasmos
que me esgotassem de dentro para fora, e poder em paz poder falar de amor sem o
esperma a pressionar-me as têmporas.
Limito-me a beber a chuva que recolho no meu rosto através
das arestas que culminam nos meus olhos apontados para teu quarto. Deixei-te
num pilarete um livro com meses de confissões para nós enrolado em plástico
para proteger da chuva que teima em querer desfazer qualquer papel testemunha
da minha obsessão por ti.
Horas acompanhado pelos cigarros que não fumo a partir a
cabeça a tentar perceber um mundo que me interpela e me espanta pela
complexidade que não se adivinha e me esmurra na cara sempre que parece que o estrangulo
com uma chave ao pescoço. Horas a confessar-me para ti em assuntos que te
passam ao lado como cometa profetizado no dia da morte de César e queimas tudo como um bando de folhas
murchas que varreste no jardim.
Que lição me deu a vida nesse dia, a do eterno abismo entre
o meu mundo interior e o que morre fora de mim. Não entro mais em casa que não me convida, e
guardo quando consigo os labirintos da minha cave, apesar de o som que vem do
mundo chilreante me usar como caixa de ressonância para ampliar o próprio ruído
a que chama música.
Passeio horas a lembrar as curvas do teu rosto os teus
cabelos louros e pretos, castanhos e como a minha mão caminha tacteando todas
as curvas do teu crânio e a ponta dos meus dedos sentindo a tua pele oleosa,
seca, quente ou com cadáveres de laca, massajando-te afagando-te, em carinhos
que achas infantis.
Como rotundo fracasso, forço a minha entrada em
rectangulares sucessos adiados, que derivam entre abraços masculinos com
validade genética.
Caminho sozinho de mão dada na tua, pela noite junto ao rio,
com vento estival sussurrando na nuca, e um arrepio que pressagia o Outono, e
sinto que tal como as estações do ano, o tempo passa em ciclos de morte e
renascimento, e que nunca mais vou despedaçar meus lábios contra um jovem rosto
de coração destravado, morre dentro de mim como ampulheta sem gás as ilusões
que faziam bombear o entusiasmo que dava vida à vida, parecendo que vou
estagnar num ocaso lento sedento pelo último raio de sol.
Tanto procurei por
entender que a magia esboroa-se como fatia de pão quinzenal deserta de
entusiasmo por caminhos não trilhados e tempo para os trilhar.
Onde encontrar outra viatura que acelere a fundo o pedal
para chocar comigo de frente num abraço de cuspo e suspiros já não podendo
adiar a distância que oprime, cessando a individuação, onde encontrar a refém
que me arranque da humanidade consciente que é sentir o seu desejo puro
cristalino directo e sem desculpas ou paragem nas boxes, alguém que sirva de
escolho para meu casco naufragar violentamente que sorva avidamente o que a
vida lhe dá sem a pretensão de controlar cada diástole e que seja como eu
humana, presa de si mesma e do pulsar que nos une a todos na carne e nos afasta
no espírito?
Viras-me o traseiro que se aninha sob o abraço que te dou, e
logo a natureza me chama para o transe a energia teima em não morrer moribunda
fingida sob a indagação se sou eu uma ficção, ou se o mundo que me rodeia está
pejado de autómatos.
Ambos os sexos estão sujeitos ao princípio de economia de
esforço.
Ambos querem comer o melhor do bolo.
O homem foi domesticado por uma sociedade em que a força e a
integridade morreram com a economia de serviços e foram transvestidas com o
espectáculo dos desportos e das telenovelas. Viu-se o masculino despojado do
seu poder negocial para com a vulva, o papel de protector, restando vender-se a
si mesmo de acordo com as regras de uma encapotada sociedade matriarcal. Arde
no altar da ninfa inflacionada, perdeu a parceira e ganhou a Senhora, vive
agora nos escombros da sua catedral de religião extinta e sente que há algo
mais fora da stationwagon e dos mocassins domingueiros, mas não sabe o que é no
meio de tanta ordem e drama que são o ruído que sua dona emana e ao qual foge
por abrigo em longos passeios de btt ao fim de semana, ou surf, ou vómitos em
traineiras de pesca ou jogos de bola ou serões no café afogado em álcool para
suportar o inferno da vida doméstica.
O papel desonesto da ambivalência feminina é este,
esforça-se e desunha-se para controlar, subjugar o masculino através da vagina,
e ressente-se de o conseguir.
Durante a adolescência perdia-me em incompreensão pelo sexo
oposto, nas suas reacções, suas charadas, cheguei a acreditar que era eu o
inadequado. Surpreendia-me por não se jogarem as mesmas leis e fui enganado
como quase todos ao pensar que a vulva requeria técnica de toque em acordes
certos. Tornámo-nos calculistas pois não percebemos que estas regras
contraditórias e esta publicidade à existência da melodia do flautista de
Hamelin eram afinal a trapaça que nos levava ao afogamento no rio Weser.
Foi a machadada final na nossa integridade, a troco de umas
pregas de carne.
Alguns foram mais longe, como eu, no caminho para o fundo do
poço. Não desisti nem me contentei, enquanto não percebesse. Analisei os
métodos, tive de privar de perto com elas, trocar a análise delas para mim e de
mim para elas, e dei por mim a jogar com o mesmo jogo e mesmas armas, e não
gostei do que vi quando olhei para dentro. Vi alguém que se degradou por causa
do seu impulso para o erótico, e que acabou a jogar o eficaz mas sujo jogo da
sedução.
É básico, implica perceber um pouco da mulher como uma entre
iguais, e não é que resulta?
Tirá-la do pedestal, e perceber que a pila vale mais que a
vulva, afinal nascem mais mulheres que homens, morrem mais homens que mulheres
e o Y faz toda a diferença.
Mas eu estava viciado, queria ir mais longe e conseguir
esfregar na cara das manipuladoras a plena compreensão das suas tácticas
básicas, ingenuamente querendo ser responsável pelo momento de catarse em que
se dariam conta da falácia do seu comportamento, e de que afinal as básicas são
elas.
A mulher é ser fingidor que sente que é dor a dor que
deveras sente, já dizia o poeta.
Como esfregar na cara qualquer coisa de que ela não se apercebe
nem concebe que o pacóvio homem lhe esfrega na cara? Como mostrar a um ser
hipnotizado pelo brilho, que por detrás da carne vem o esqueleto, se não temos
qualquer brilho para ela?
Tenho tido uma sorte imensa nas relações que tenho tido,
quer nas boas quer nas menos boas, e percebi que quanto maior é a rodagem da
mulher por vários homens mais esquemas e estratagemas ela elabora. O objectivo
deste blogue é exactamente deixar aqui testemunho literário para que possa ser
útil a alguém pensar os temas das relações e da sociedade burguesa.
Uso a minha personagem ‘Susana Pascoal’ como
epíteto desse universo complexo que é a teia que as mulheres tecem presas na
sua biologia.
VI
Su não nasceu assim. Nem ela nem So. Fizeram-se assim, ao
longo do processo de crescimento, no qual a figura do pai desempenha sempre uma
forte influência.
Su quando a conheci esgrimava a sua auto estima com mancebos
do Quartel militar mais próximo, e com surfistas, com uns media a performance
física, e com os últimos a psíquica pois toda a gente sabe que os surfistas são
uns paz de almas. Vencer uns através de sessões de sexo extenuante e vencer
outros através de os conseguir levar ao ponto de ruptura emocional eram os
troféus que lhe permitiam mostrar a si e às amigas que era uma mulher,
desejada, emancipada porque fode como fodiam os ‘homens’.
Diria Freud que era a ‘inveja do pénis’ mas não, era mesmo
um ressabiamento interiorizado por anterior desconsideração do pai. À sua
maneira a humilhação do homem compensava o abandono do seu pai que tanta
impressão lhe havia feito em criança.
Quem fode industrialmente e é incapaz de sentimentos que não
superficiais corre o risco de se defrontar com o princípio de individuação de
alguém, ou por outras palavras alguém vai ficar chateado por ser usado nesta
vendetta contra o mundo.
Era esse o prémio de compensação na fantasia dela. Largar o
cachopo sem lógica possível para o abandono, de forma a fazer que ele parta a
cabeça a perceber o porquê.
Esta é uma das clássicas, a mulher sabe que o seu
comportamento ilógico é extremamente perturbador para o homem, que se deixa com
ela envolver emocionalmente, ele vai tentar perceber o mecanismo, e partir a
cabeça nisso. Motivado pela promessa de vulva e da dor da rejeição encontramos
aqui os dois estímulos eficientíssimos para a insanidade de quem se perde a
pensar no que elas pensam.
Su tinha portanto uma lista imensa de traumatizados que
sentiam perder uma boa cona que comia homens e que portanto ao rejeita-los, os estava a colocar numa mesma
longa lista de fracassos, o que não pode ser pior para o sentido de
individuação de cada um.
Duvido que Su elabore conceptualmente este mecanismo de
humilhação, mas usa-lo sabiamente, funciona e isso basta-lhe.
So, a mulher dos cocainómanos lisboetas, funciona como modus
operandi semelhante, e mesmo registo.
É um pouco mais ingénua apesar de ser igualmente hábil a
traçar plano de jogo. Percebemos o plano de jogo quando algo não faz muito
sentido e pensamos que pode haver de lucro e para quem em determinada situação.
Todas as mulheres dão o litro nas primeiras relações
sexuais, é o anzol que fisga o cachopo para encontros futuros além de que a sua
auto imagem depende daquilo que acham que eles acham delas. Já o tinha notado
em Lu por exemplo, com a desenvoltura que me sabia a falso. É de certo modo
enternecedor. A desenvoltura de Su era diferente,
era descolhoadora, e se eu fosse um pouco menos experiente na altura teria
ficado impressionado. Su fodia o parceiro, no ponto de lâmina em que o tenta
submeter sexualmente. Grande parte dos homens só gostam de fazer sexo por
prazer genuíno, e as primeiras vezes nem corre bem por causa das perspectivas
de envolvimento emocional e ansiedade de performance.
Su, estava condenada a sofrer as consequências da sua luta
contra o mundo.
Como é que alguém chega a determinado tipo de comportamento
e depois o justifica? Através de tentativa erro experiência, dor e chico esperteza.
O mais importante para a mulher é a sua auto imagem. Aquilo
que pensa de si não está radicado em profundas cogitações acerca da vida da
personalidade ou da metafísica dos vícios e da virtude. A mulher acha que é um
ser mágico contraponto ao homem que é dado a essas especulações meditativas, e
portanto o sol da fantasia é sempre mais paradisíaco que o frio deserto da contrição
reflexiva e portanto a mulher deixa a inteligência à superfície, ou seja, a
chico esperteza.
Esperteza que se manifesta através da análise daquilo que vê
nos outros que a vêem a ela. Ou seja, é através do impacto que julga ver causar
nos outros que aufere se o que está a fazer está a resultar ou não. Se
determinado soutien cumpre o efeito de fazer o homem olhar, a ‘opinião’ dele
não é suficiente pois o pobre tolo olharia para qualquer soutien amparando
mamas. A opinião de outras mulheres iguais é sim valorizada pois elas
participam na mesma fraternidade que toca as mesmas notas no embasbacamento dos
homens, assim a mulher tende a dar mais atenção à opinião das outras e a
ostentar as suas conquistas para as outras ao mesmo tempo que para os homens,
mas no final, é a opinião delas que conta. O homem para Su funcionava então e
deste ponto de vista, como a sua parte de teatro representado para trocar
medalhas com So e com a outra que compunha este trio maravilha, e que haviam
partilhado não só um quarto em residência universitária, como mundividências e
tácticas de engate, numa amizade osmótica roçando pinos de competição, embora
as mulheres achem que a amizade feminina é bem mais pura que a masculina.
O caminho para So estava asfaltado pela impressão em Su. A
heterodoxia da minha comunicação é o anzol que uso, que aliado à projecção de
que nem todos os homens são broncos adoráveis faz com que as manipuladoras se
atraiam como moscas por açúcar.
O problema está em que não gostam nada de quem joga o mesmo
jogo sujo. Faz lembrar-lhes que jogam sujo, e que ainda não somos os redentores
do género masculino que elas estão à espera. Quando o encontrarem, se o
quiserem ver, vão passar por cima dele como fazem e fizeram com todos os
outros.
Mas desengane-se aquele que pensa na alma feminina como
errante à procura da virtude perdida.
No intimo desconfiam e admiram o homem íntegro, mas como
medem a inteligência dos outros pela capacidade para a astúcia e de enganar os
semelhantes, o homem franco que tenha o azar de ficar em suspenso por uma
destas mulheres é como disse, trucidado.
Perdem-lhe o respeito assim que o corrompem (justificando a
sua confortável mundividência de que o mundo é corrupto e os sãos são doentes
porque limitados ao jogo interior de adesão à virtude) ou que o sentem
vulnerável.
Um homem íntegro não dá luta a não ser se for para o
corromper. Por isso se mantém afastadas destes, por lhes lembrar o que não são.
Precisam mesmo muito de se sentirem inteligentes e a inteligência básica é essa
de conseguir dar a volta aos outros num jogo de charadas em que perde quem se
deixa colar.
Su não tinha pretensões de qualquer pensamento aprofundado e
fundamentado sobre qualquer assunto. So tinha. Mas ambas partilham a mesma
aversão a citações, confundem-nas com manientas manifestações de erudição ou
submissão abjecta a palavras mortas. Nenhuma pensa que citar seja dar ao outro
a possibilidade de ver por si.
Nenhuma se considera superficial, embora Suzi não tivesse
qualquer passatempo que não passar o tempo livre na praia a pescar surfistas.
So deleita-se na companhia de quem lhe prolonga a fantasia, o seu mundo de
Pollyanna, no qual a sensibilidade é exacerbada por documentários artísticos sobre
os males do mundo, ou no mundo de néon onde se perde o sono e a figura por
falta de descanso.
Ambas utilizam o silencia como arma sempre que acham que é
eficaz. Su quando apanhada em falso, So quando acha que o peixe esticou a
corda.
Paula usava o silêncio para sentir o conforto do imbecil que
se mantinha no séquito. Qualquer mulher se sente mais segura com um séquito com
o qual não tenciona foder. Só depois de um príncipe encontrado que corresponde
a uma ideia feita mas não assumida é que o amor surge, por definição prévia do
amável.
Lembro certa vez Su vogando por casa nua de porta aberta
para toda a rua ver. Espreitou-me no cimo das escadas e me escondi mas sei que
ela me viu. E continuou nua descendo as escadas para a casa de banho sabendo
que eu lá estava e fingindo-se surpresa quando me viu e esperando uma crise de
ciúmes pelo que me ri.
Su não respeitava as mulheres que por mim se revelavam
interessadas na altura. Para ela eram todas tansas. Porque eram todas pessoas
de boa índole e sem o grau de complexidade de manha que ela tinha e que achava
como assertivo de inteligência.
Para Su, se era uma pessoa simples, era estúpida.
Muita gente funciona assim, como critério e avaliação dos
outros. So foi a mais indigentemente ligada a este saloio modo de estar. Para
So, desprovida quase por completo de vida interior pois era incapaz de estar
sozinha sem documentários que a distraíssem de pensar, só o desconhecido ou o
semelhante eram dignos de ter brilho.
Liga-me certa vez às tantas da manhã com uma conversa sem
sentido e frisando que estava bêbeda e acompanhada, a qual como depois
compreendi não era para mais que fingir um interesse revelado através da
desinibição alcoólica.
Su também uma vez fingiu querer debater «O Nascimento da
Tragédia» pensando que assim me arrancaria da apreensão constante, mas quando
se apercebeu que eu era capaz de passar 30 minutos a falar sem pensar em sexo,
afinal, o seu terreiro, desistiu suavemente de conversas interiores. A melhor
forma que tens de perceber se a mulher que frequentas gosta de ti ou é apenas
mais uma pobre alma torturada, é falares-lhe daquilo que realmente gostas, e
vais ver que se ela gostar de ti, se cala e ouve até ao fim. As outras esperam
que te cales para continuarem a sua conversa.
Umas escutam-te, outras esperam que te cales. Não abuses da
receita a não ser que a queiras entediar. Su por duas ocasiões revelou a frieza
da sua análise e por muitas mais exigia a minha entrega total, precisava de se
sentir vitoriosa.
Uma foi quando do nada me revelou que achava que sabia
porque as mulheres se apaixonavam por mim e outra foi quando eu num carro com 3 mulheres ela incluída,
monopolizei a conversa mantendo toda a gente bem disposta, ela interpretou como
se eu precisasse de dominar as mulheres. Como dizia o amigo Freud, ao falar de
algo ou alguém revelamos muito sobre nós e que delicioso foi ver que a pobre vítima
do mundo era incapaz de um ‘momento de cumplicidade’ verdadeiramente sentido.
E é esta a sua força e a origem da sua falta de carácter.
Não falo mal de nenhuma mulher em particular ou geral, apenas exprimo o
resultado das minhas observações.
Portanto, não sei bem que pretendo com este texto. Nada
tenho mal resolvido senão as limalhas de entender que há uma semelhança nos
métodos, e que mulheres assim nunca serão de ninguém, estão cicatrizadas para a
vida.
Por
mais disparates que se pensem e passem a escrito, nunca a tolice ou o carácter
insondável do mundo darão descanso a pessoas que buscam constantemente
perceber, compreender.
A partir das suas experiências e dos seus olhos tentam
primeiro vogar sobre a dúvida metódica e em idade adulta sobre a suspeita que
tudo passa a cobrir como manto verde de erva fresca.
Não deixamos de procurar o tesouro ou a Hidra que nos
petrifica, seja a arrogância, a curiosidade genuína ou a mera ingenuidade que
nos motivem as velas enfunadas.
Acredito que nada faz sentido se não for compreendido. Tenho
de compreender, mas como rabo de cão, sempre me foge a apreensão do fenómeno
observado, não apenas longe das minhas capacidades apreensivas, pois como luz
de vela sempre se pode dar luz a um quarto, e depois a outro e a outro deixando os anteriores na escuridão
assim que a luz deles de novo foge. Não, os quartos são sempre os mesmos e são
sempre outros, sempre feitos de paredes que nunca estão no mesmo sítio, que não
me deixam duvidar da minha razão, mas também não lhe dão muito brilho no uso da
sua luz. A procura de uma verdade inamovível com que virar o mundo, é também
cepa torta na minha vinha, pois com a mesma pressão sei que o mundo joga comigo
não se deixando apreender e que só através do meu pensamento esgravatando nas
frestas do paredão da barragem, posso ter a ilusão de ver a albufeira que se
adivinha por trás.
Mas ouço sons, repetidos, que se tornam melodias. Reconheço
padrões geométricos e de cor, variações de temperatura na minha derme
assinaladas, cheiro aromas associados a outros estímulos, reconheço
encadeamentos de pensamentos como necessários, e choro sabendo que tem de haver
uma estrutura por detrás destas coincidências que se repetem.
Tenho pesadelos à noite pensando que depois de tanto esforço
só vou chegar à mesma superfície daqueles que passam pelo mundo numa base de
imediato e tangível. Angustiado, não porque me sinta melhor que os outros mas
porque o apelo de chegar ao coração das coisas é tão forte quanto o corpo de
uma bela mulher que me faça latejar por uma celebração de vida.
A minha vinha tem vinhas e uvas como as outras vinhas, bem
espremidas dão um entranhado mosto que irá parir um vinho, como parem os outros
mostos. Sei que as castas diferem, a poda e os adubos também, mas no final sai
ou vinho ou vinagre. Por melhor que se enxerte, depende da água que cai, e do
Sol que arde. Depende do sabor do vidro, e do palato do provador, e de tantas
outras estrelas que o que interessa mesmo é a vindima, pois só se sabe o valor da colheita depois de se tirar a
última rolha.
II
Adoro mulheres. Considero-as maravilhas da Natureza, poços
de força, e a maioria dos meus heróis são do sexo feminino. Mas que mulheres
são essas que motivam a escrita de meia dúzia de páginas de texto, de volta da mesma enxertia de sempre, da
mesma casta do mesmo cacho, de forma a perceber até ao ínfimo pormenor como
surge o estranho vinho que recolhemos em colheita anterior? Há que perceber,
sempre, o como e o porquê. Especialmente se a suspeita filosófica te revela que
nada é o que parece, e que por detrás da aparência há uma intenção. A intenção,
mais que o véu de Maia, é a paixão do revolucionário. E só o homem é
revolucionário, e só o consegue ser sozinho. Não há diferença de valor civil ou
antropológico entre homens e mulheres, nem sequer moral. Há homens ‘bons’ e
mulheres ‘boas’. Mas como se testa o carácter de determinada cepa senão a
plantando em socalco irregular e arenoso para ver com que raízes se agarra à
vida e frutifica? Alfa e Omega em parada nupcial, e esmagamento nervoso. Suponho
que a afirmação da raiz de cada um se faça à conta da vontade com que fazemos crescer
as nossas ramas para o lado da nossa vontade e não da determinação da poda. Não
é orientar os cachos para onde sopra o vento, de facto o que nos faz humanos é
vivermos e morrermos por opção por ideias. Há qualquer coisa de nós de caçador,
e de recolector. Um faz a sua sorte, outro aproveita-a.
A filógenese ratifica as duas. Também a sociedade dos homens
e das mulheres.
III
A mulher sempre foi um
poço de assomo para mim. Sempre senti nelas uma diferença diferente da
minha. A sua convicção nos momentos presentes sempre teve em mim um efeito
narcoticamente hipnótico. Como se nunca
pensassem que podia estar alguém por detrás da cortina.
Começa logo por aí e pelos discursos maternos a divinização
do feminino, aos olhos de um rapaz a certeza da rapariga tão mais avançada no
crescimento que ele próprio só pode ser emanada de um ser superior. A mãe
também diz que as meninas são de algodão doce e caramelo, e os rapazes de
cobras e pedras, e cresce o pobre homem
sentindo que tem de merecer o ser superior que começa desde o berço a perceber
que com sorrisos e choros pode levar o paizalhão a pegá-la ao colo ou a
mostrar-lhe o maior sorriso do mundo. Com um pouco mais de tempo tem o adulto
domesticado ao sabor da maior parte dos seus caprichos, pois que mais quer um
pai que proteger a filha do mundo duro e
ensinar ao filho quão duro o mundo é?
Entra na adolescência o rapaz a toque de punheta, suando
acne por todos os poros do seu corpo inadequado, violado por revistas
pornográficas omnipresentes, mini saias constantes, anúncios estimulantes para
delícias nocturnas e toda uma cultura que coloca a masculinidade na proeza de
satisfazer sexualmente o sexo feminino, ou no mínimo na capacidade de lhe obter
os favores?
O próprio pai se baba se o filho já colecciona namoradas
pelas casas dos amigos, mas prefere negar tal liberdade à filha que é mais pura
que a água de nascente.
A ninfeta descobre que um peito que desponta como um broto
primaveril num pomar de romãs exerce um fascínio sobre qualquer homem, mais ainda
que as farsas que representava para o pai, e assim começa a sonhar que tem um
talento, herdado da mãe, que é mágico, e que é conseguir o que quer de outros
seres que não possuem a beleza que ela tem.
Presas quer ele quer ela de uma antropogénese incompatível
com a cultura que nos molda, ele com instinto copulatório vinte vezes superior por causa da
testosterona e ela por causa do estrogénio condenada a ser fraca fisicamente
tem de se valer do que a Natureza a fez valer, e é essa sensação de possível
submissão que faz brotar a ilusão de guerra, na qual o homem perde pois só tem
acesso à vagina através da dança que a mulher ordena dançar. Afinal a vulva é
dela, e se ele quer, tem de ser à maneira dela.
Torna-se assim a tolice da guerra dos sexos, a não
existência mais existente de todas, pois onde quer que encontremos uma mulher e
um homem, ela vai ocorrer, mas eis que surge uma aurora, mais dourada que as
anteriores, e que coloca uma outra perspectiva. Mercê do seu génio, o homem
possibilita a vida, de forma diferente que a mulher uterina. Ele faz, inventa e
protege, e sente-se bem assim. Mas a acentuada percentagem de conforto actual
tornam o homem supérfluo, a mulher não precisa dele para atingir o grau de
conforto já bem aceitável que ela tem. A mulher encontrou um lugar no mercado
de trabalho de forma a libertar-se da dependência financeira do homem, os
serviços são dela.
Que pode o homem oferecer senão a gradual submissão à toda
poderosa vulva?
Às mulheres urbanas de hoje em dia, não chega submeter o
homem, há que humilha-lo. Não chega a ser um ser em grau de igualdade, é um
porco porque lhe deseja o corpo, como tantos outros com os quais mediu forças
ao longo do processo de crescimento de maminhas e ancas voluptuosas. É um
básico que só me quer pelo corpo, então quer-me usar como depósito de esperma,
mas vou eu usá-lo como eu quiser, veremos quem é o mais forte. Irónico ter-se
tornado o homem em troféu de caça por causa da hormona que o fez caçador e
protector dos seus.
A mulher sente-se no topo do mundo, os homens depilam-se
para lhe agradar, usam cremes, cantam pop, as pussycat dolls elevam
exponencialmente pelos media a glorificação do poder sexual que a mulher tem,
único aliás a par do condicionamento das crianças.
Nãda há que não se venda que não envolva uma mulher em
trajes menores, e até há estudos de género que lançam suspeitas na ciência
feita só porque foi feita maioritariamente por homens.
Há noites de ladys nights em que os trouxas pagam e as
mulheres isco não, e até nos casamentos já é suposto um homem ajoelhar-se e
abdicar de parte do seu rendimento sobre a forma de um adorno, anel, para ter a
honra de desposar uma vagina sobreinflaccionada.
Um marciano diria com o seu olhar objectivo, que de facto, o
homem é o ser mais bem domesticado do planeta.
IV
É fácil, se seguirmos uns princípios e alguma experiência
(para limpar a merda que nos enfiaram na cabeça, que se designa por ‘endoutrinação’)
perceber como e porquê somos manipulados. Ao fim de algum tempo começamos a
reconhecer padrões e sintonias.
A manipulação é uma influência exercida por comunicação de
molde a levar outrem a fazer ou algo que não quer ou resiste, ou que o emissor
quer que o receptor faça, de forma alheia à sua vontade. E é aqui que a porca
torce o rabo.
O manipulador encontra sempre um interesse para o outro na manipulação
que nele opera. É o que se parece com o branqueamento da manipulação para que
quem manipula não se sentir um filho da puta ou uma filha da puta.
Várias razões podem basear este mecanismo de protecção,
experiências passadas, uma certa mundividência, uma conveniência, a arrogância
de achar que sabe mais que os outros ou mesmo mau carácter, entre outros.
Experiências passadas como se me fizeram a mim vou fazer a
outros ou nunca mais vou sofrer; certas mundividências nas quais o mundo é
assim, toda a gente sabe, etc. ; conveniência porque eu gosto de fazer mas não
que me façam a mim, etecetera etecetera, e atenção que é válido para homens e
para mulheres.
O que para mim sempre mais me interessou, foi a questão das
experiências passadas e da mundividência.
Como é que alguém chega a determinado tipo de comportamento
e como é que depois o justifica.
Isso fica para depois deste preâmbulo, na parte dois.
Outrora lambia os teus passos pelos corredores que me passavam à frente dos olhos e ressentia o facto de nada me dizeres, embora sentisse uma ligação qualquer pelo ar e não eram as ondas hertzianas.
Acabei por me ir embora do lugar da convivência possível com ressentimentos em relação a ti por saber que havia algo, mesmo confirmado pelo nosso amigo em comum, e nunca ter tido uma janela de confirmação. Provavelmente, uma tipa de cabelo cor de laranja quer arranjar um gajo com cabelo rosa choc com mínimo discurso excêntrico possível.
Durante uns tempos ainda pensei que nos iríamos encontrar em algum lugar, mas pouco tempo depois soube-te comprometida com alguém e ficaste associada a uma imbecilidade da minha parte de ter imaginado algo que não existia.
Quando tempos mais tarde se manifestou uma opinião tua acerca de mim, óbvio é que o que estava enterrado ressurgisse. Nunca teria havido uma atenção prévia e no entanto sentias que tinhas algo a dizer sobre mim…sem me conheceres ou o que tinha acontecido.
Mesmo assim pensei que se tivesses sentido alguma coisa não teria sido forte ou profunda, o suficiente para te fazer tomar uma acção, a ti uma mulher que trata a vida por tu.
Pouco tempo mais tarde senti-te emocionalmente ligada a mim, porque ninguém quer chocar alguém com conversas de pilas extra grandes, se nada sentir pelo alvo.
Ressurgiu algo relativo ao suposto engano da minha parte que não havia sido. Mas não desapareceu a animosidade pois alguém que é capaz de afogar o que sente por mais fraco que seja o sentimento, é alguém calculista e com um auto controlo que impede qualquer tipo de abertura franca de peito. Por um lado é motivo de admiração por outro é motivo de cautela especialmente se aquilo que se procura é um acesso à tua intimidade.
Por fim, a sensibilidade à tua existência e a jocosidade à ideia de uma amizade, apenas compreensível pela escassa convivência entre nós, revelaram-me que não havia nada a fazer enquanto a compreender algo entre nós. Lição de humildade pois nem tudo se deixa reduzir a meia dúzias de proposições que magicamos nas nossas cabeças.
Erigiu-se uma cidade contra minha (pelo menos) cidade e estas foram as nossas trompetas de Jericó.
Acabámos aos toques de língua por ruelas de Lisboa, num momento em que provavelmente te encontras com menos ânimo na tua existência, numa antiga vontade minha e que nos apanha a ambos em determinado ponto do rio onde já não se tolera o som que alguns seixos fazem a água murmurejar.
A ausência desse gosto pelo silêncio que a água ruidosamente pressagia caracteriza exactamente a passagem pelo tempo que não nos deixa mais maduros mas mais velhos, perto da morte final, porque gastos prematuramente em cogitações sob a carga de experiências passadas.
Afinal foi apenas um duelo de línguas. Para mim não foi. Foi apenas o testemunho de algo trágico, que devia ter acontecido e não aconteceu.
Frontal como um choque de locomotivas a demasiada consciência exaurida das lutas de sujeitos numa relação, especialmente quando um deles busca a intimidade do outro.
Criou calo, e agora é a zona de conforto, não dispostos aos excessos do passado, e a cansar por caminhos já percorridos. Dissemos a nós mesmo que havia bastado.
E deitámos fora a criança juntamente com a água do banho. Eu não, tu. Uma prova disso é o meu texto que te passa agora pelos olhos. Podes dizer que é um dos artifícios clássicos de (previamente notado ) sedução, mas teria porventura mais sucesso cumprindo as habilidades que presenteias como dicas e regras. Para quem gosta de sinceridade, não há mais sincero que falar na solidão da leitura de um texto e não nos diálogos inconvencionais por uma rede social.
A imaturidade arrasta sentimentos fortes além de um mudo confortável de barbie e ken, e por isso deve ser respeitada e não vista como um degrau imperfeito na nossa caminhada pelo tempo.
É difícil verbalizar e trazer ordem a isto especialmente ao que te estou a dizer e que me faz passar como um azarado ao jogo no casino do Estoril, que ainda não percebeu que não há maneira de ganhar e vai acabar pendurado no candeeiro da saba com um lençol abraçado ao pescoço.
Claro como uma bofetada na tromba, a ideia de que quem menos se entrega ou mais se controla melhor controla o fluxo e uma das formas de controlo passa pelo desapego no qual és mestre.
No qual sou cego.
Então torna-se claro ..eu não aprendi. Apenas repeti a mesma fórmula ano após ano.
Tu evoluíste. Refinaste-te após cada percussão do metrónomo, e estás numa escala de controlo muito acima da cave onde me vomito.
Ou então estás nem aí…e voltamos ao início…eu como espantalho que inclina o pescoço para trás sempre que sente um afago, esperançado que seja o teu, e não um corvo que lhe deseja a palha jugular.
E sabes, apesar do erro clássico, inclinaria de novo o pescoço para trás mesmo que me valesse o epíteto de J o ‘estúpido’ significaria que estaria sempre à espera do teu toque e a fornalha não deixava apagar o lume, que em ti com o tempo comigo deixaste extinguir.
Sísifo só enganou os deuses durante algum tempo. Eu engano-me há uma eternidade.
Todos sabem que existem fotos que sob
determinado ângulo reflectem supostamente até ao infinito a imagem
fotografada e encarcerada num jogo de reflexões.
Cada uma dessas brincadeiras de criança
sob determinado ângulo mostra mais que a sua cópia e geralmente é
a primeira ou a última a revelar ao olhar um pormenor escondido nas
outras ofuscadas pelo seu gradual albedo.
A biologia evolutiva tem sido um
fabuloso campo de saber um pouco descurado pela vox populi tendo em
conta a sua aplicabilidade imediata por contraste com outras áreas
científicas. Parafraseamos Descartes, cada um acha-se bem munido de
bom senso e inteligência, o suficiente para descurar o mester
alheio, e em parte é disso que se trata neste tutorial em como
repetir planeadamente o que é causa de muito sofrimento para grande
parte dos homens. Serem abandonados pela vulva que se havia colocado
no centro do seu sistema solar.
Veio-me a ideia em concreto a partir do
mais cliché uqe é possível encontrar tendo em conta o espécime
visado.
O filme 'romântico' com a Kate Hudson,
sobre como perder um homem em não sei quantos dias.
Achei perfeito pela ironia aplicada ao
espécime que vive com a narcótica imagem de si reflectida num lago
como a personagem do mito.
Pensei eu que a suprema ironia seria
reconfirmar a mim e ao espécime que por mais excêntrico que pareça
aos olhos de si mesma, não passa do mesmo barro que nos faz a todos
membros de uma 'Humanidade'.
Tudo isto demasiado rebuscado afinal
para ser apreensível senão por mim.
Fica a memória da piada, apenas para
mim, até porque o ego tem uma função automática de protecção
que impede qualquer reconhecimento de falha. O que acaba no fim de
contas de ser o ideal, apesar de a doce tentação de esfregar na
cara a doença dos outros ser tão aprazível, até para mascarar a
minha própria doença.
O espécime, mutatis mutandis pertence
a uma geração urbana demasiado efeminada e sobre polida, demasiado
bem encaixada num mundo de conformação e convencionalidade
negativa, entendendo-se por isto, uma convencionalidade que é
ostensivamente anti convencional e que no final de contas faz parte
de um largo mainstream ou daquele mainstream que se quer considerar
minorstream mas é ainda mainstream. Neste minorstream escuta-se a
música que o menor número escuta, ou olha-se para os filmes que o
menor número ou apenas uns selectos poucos olham.
Cria cada um e uma, uma imagem de si
próprio, politicamente correcta, sem ângulos, sobre ideiais bacocos
e assentes em nacional porreirismo, que sob determinado ponto de
vista, são uma versão delicodoce de cinismo. Alguns amam defender
os fracos nem que para isso ataquem todos os outros, alguns adoram
diferenciar-se da manada através da especialidade do seu ser, seja
através do grupo de amigos cultivado, das diversas cores de cabelo
estivais, da ininteligibilidade dos gostos que gostam de mão dada,
ou na colecção de lugares comuns com que por vezes tentam insultar
os outros quando os contrariam ou atacam a sua zona de conforto.
Esta civilização suburbana pensa as
traves sobre que repousa, analisa-as deifica-as até ao ponto de se
achar a o pináculo da sofisticação e civilidade, sendo até
divertido olhar e provocar a instabilidade das mesmas, pois nem
sequer tocam nas paredes que as deviam suster, mas como náufragos
preferem ir ao fundo agarrados a barrotes podres.
O caro leitor ocasional, pode até ser
um destes sujeitos, será fácil saber, pois a minha escrita é
geralmente por eles tomada como algo de mau gosto, pois não sou
correcto, nem politicamente nem esteticamente, nem o quero ser. Não
confundo maturidade com a capacidade de não cometer as
infantilidades que vão na cabeça quando brinco aos adultos, nem
honestidade com projectar uma imagem que quero que os outros pensam
de mim.
Esta civilização do chá com verniz,
dá palmadinhas nas costas uns dos outros, compõem uma sociedade
secreta até para eles mesmos, de purga das energias negativas, e do
positivo forçado, são sociáveis em festas regadas a bebida
destilada e por não conhecerem mais que o próprio umbigo acham que
são um poço onde brota originalidade. O espécime analisado havia
recolhido ao longo do tempo, nem um zé ninguém na sua lista de
cama, nem um gajo normal, apenas pedaços de puzzle que em maior ou
menor grau se encaixam na pintura escolhida para verdadeira, tão
amena para a auto-estima.
Nem todos seriam funcionais, teriam de
ter defeitos humanos qb para dar um aspecto de veracidade do que seja
a condição humana, toxicodependência, carência afectiva, ciúmes,
libertismo, e como eu costumo dizer, neste caldo, não traz sabor uma
batata normal. Quem sempre escolheu comer desta sopa não se espanta
com sabores convencionais. Foi aí que comecei a retalhar. Sabia que
projectava uma imagem de algum fascínio ou distância, pela não
convencionalidade do meu discurso, e a assertividade com que o
mantenho. Cedo comecei a perceber que esse fascínio se reduzia até
distâncias de controlável à medida em que a fêmea dava mostras de
me controlar com a sua sapiência com pés de barro. Tinha tido
semelhante experiência com Lúcia, que enquanto não entrou para a
Universidade me ouvia com deleite fabular, e quando entrou, já
debatia com certezas de assuntos que não conhecia, e quando terminou
já desvalorizava por completo o discurso alheio pois o que se
procura não é o saber, mas uma bengala para a nossa auto estima.
Mesmo que nada tenha mudado a não ser
o nosso tempo de dedicaçao aos assuntos que o outro relativiza.
Caro leitor assente:
Proposição número 1:
Não interessa o que se diz, o conteúdo
da mensagem, mas sim o que projecta ser.
Comecei a perceber o completo desdém
por assuntos que identifiquei como meus e desde logo percebi que o
espécime era 'damaged good'.
Reagi de acordo, respondia a mensagens
com cada vez menos tempo de espera para a interlocutora, valorizava o
seu conhecimento e saltava pelos seus loops como caniche bem
comportado e submisso, sem deixar de perder a provocação de modo a
fazer durar a tensão o suficiente para lhe traçar o perfil.
O passo natural seguinte seria claro,
exigir-lhe companhia, e confessar a minha necessidade visceral da
mesma, colocando no seu campo a decisão de satisfazer essa condição.
O resultado é óbvio, cede à mulher ou a outro estímulo externo a
faculdade de te alterar o ânimo e com toda a certeza vais cair com
os burros na água. As mulheres fartam-se demasiado rapidamente, a
não ser que tenham uma cenoura em frente ao nariz. O primeiro passo
foi abdicar da ascendência temática e vulgarizar-me, a segunda
jogada seria revelar-me igual a tantos outros coninhas que ela
manipula pelas discos desta capital, o terceiro foi mostrar-me como
satélite da sua orbe celeste, o quarto seria então impor a minha
presença, fosse através de convites, de sms, de textos e
videoclips, de presença pronta e constante, e de cartas para o
trabalho. Tinha de retirar toda a folga ao espécime para o mesmo
poder agir da forma mais aborrecidamente convencional que lhe fosse
possível.
Proposição número 2:
Menos é mais, a mulher racionaliza
menos, e o seu foco de atenção também é menor, portanto não a
tentes impressionar com a tua intelectualidade ou os teus profundos
insights, mesmo que ela te diga que é isso que procura, pois vais
ficar a anhar.
O que por arrasto leva a outra
conclusão:
Proposição número 3:
Não interessa o que ela diz.
A mulher diz
aquilo que pensa que sente mas a maior parte das vezes lógica e
hipotálamo exprimem coisas diferentes. Temos a tendência de achar
que as mulheres funcionam ao mesmo nível de abstracto que os homens.
A mulher é extremamente mais complexa, e uma das provas é a
desproporção dos números de fêmeas em actividades esotéricas, a
mulher adora tudo o que não consegue explicar, nesse caso é como a
hiena que só respeita o que que lhe é mais alto, ou como a iguana
que só come ou ataca o que lhe cabe na boca.
O trabalho de
despolimento não teria sido completo sem a minha própria
humilhação, e colocação no polo oposto aos dos machos tipo da
zona de conforto do espécime.
A dita humilhação
veio através da discussão constante ante os testes que naturalmente
me lançava, rebate ponto a ponto, sentimentalismo exacerbado,
admissão de culpa, pedidos de paciência, tiradas jocosas facilmente
identificaveis como inseguras, e acima de tudo expressões de
necessidade de auto justificação, que começam imediatamente a
surtir efeito assim que o espécime se desinteressa da minha área
temática, e eu carrego no acelerador.
Revela que estás
longe de todos aqueles que ela frequentou, ela irá ser lacónica
para que te esforces na roda da gaiola, e quando te quiser magoar vai
dizer que detesta o que fazes, só que se referindo a ti no plural,
metendo-te no mesmo saco. Vai-te dizer que é honesta, frontal e que
espera o mesmo, traduz isso exactamente como o contrário, o fumo é
só para te manipular emocionalmente, mesmo que ela se veja assim a
ela mesma. Em experiência anterior, Susana que lhe era tão
parecida, também sustentava ser a pessoa mais frontal do mundo,
mesmo quando era apanhada a mentir. Não sejas moralista em relação
a isto. A função da mulher é perceber do que és feito, vai-te
inconscientemente lançar testes e desafios para ver como te moves,
não tentes correr atrás do prejuízo, mantém-te no teu curso mesmo
que ameace com a perda do prémio, e o prémio é a vagina.
Relembra-te da proposição número 3.
Proposição número 4:
A mulher usa e abusa do seu poder
sexual.
Se pensarmos que a
mulher desde os 14 anos quando começa a desenvolver maminhas, recebe
cerca de 4 piropos por dia, ao fim de um ano recebe 1460; aos 24 anos
recebeu 14600 e aos 34, 146000.
Pensa sobre isto.
Em 20 anos de gajos com mais ou menos rebarba, mais ou menos verve,
achas que vais fazer alguma diferença tentando impressioná-la?
Que achas que fez
ela em 146000 abordagens ou cumprimentos? Aprendeu a usar o seu
corpo, a sua promessa de sexualidade, e a criar defesas e estratégias
de manipulação. Também raramente funciona como nos filmes, em que
compensa ser puro e honesto, a maior parte das vezes vais servir de
foca bébé nos dentes da orca. Mais uma vez, se queres que ela jogue
joguinhos contigo, elogia-a, pergunta-lhe o que quer dizer com x,
pede-lhe para debaterem as ideias de filme a ou vídeo b, mostra que
estás imbuído em participar no rodeo onde ela carrega nos botões.
É meio caminho andado a não ser que ela não tenha stock suficiente
de pilas pedestres para te substituir.
146000
oportunidades para refinar a sua influência sobre o sexo oposto,
achas que é uma arma que vai desprezar? Nem o Michael Jordan teve
tantas oportunidades de treinar os triplos.
Ela irá jogar os
timings, prometer e depois retirar, deixar innuendos e promessas
adiadas, far-te-á correr ou parar, basta que te desligues do
resultado, ou seja do prémio, para que vejas claramente a teia que
ela tece para que te percas dela assim que cais. Apenas pertencerás
a uma dita elite se te desligares do resultado, do prémio, da
possibilidade de uma repetição mecânica em que vazas as gónadas
usando o seu corpo, se te desligares da ideia futura de foder. Assim
serás diferente de todos os básicos que a elogiavam enquanto
ninfeta e que agora lhe gabam as fotos artísticas com elogios new
age.
Só assim mostras
que as estratégias que desenvolveu foram em vão contigo.
Mas há sempre um
nível onde podes ir mais fundo, tenta jogar o seu jogo com ela,
tenta manipulá-la psicologicamente, num jogo em que perderás
inexoravelmente.
Tenta fazê-la
sentir diferente por não sentir, debalde, apenas serás interpretado
como mais um coninhas ressabiado por a não poder comer. A partir do
momento em que estás em suspenso da sua decisão para a cópula,
perdes validade. Ela apenas terá de saber gerir, a não ser que
queiras levar o jogo até à bancarrota só para pintares o novo
esboço de mundo da excentricidade convencional e aborrecida. Que ela
nunca aceitará pois a tal válvula de protecção do ego vai-lhe
dizer que o quer que seja que digas nada tem que ver com ela porque
tens mau perder porque a queres comer.
Portanto mesmo que
queiras jogar perdes na mesma.
Proposição número 4:
Escolhe bem e exactamente para o que
queres, a fêmea que receberá a dádiva da tua atenção.
Escolher fêmeas
com lastro, ou seja, fêmeas cuja história ou passado traumático te
fazem grão de poeira em cintura de asteróides cósmica, é uma
batalha perdida antes de começar. Não te sintas impelido a salvar
com o teu sacrifício, mulheres que ainda dormem com os ex à noite,
e não me refiro a dormirem fisicamente. A 'gasteza' de cada mulher,
para com a vida, as relações, não é o resultado apenas de uma
longa experiência mas sim de um ressabiamento de as coisas não
terem corrido como ela gostaria, o que denota que se te perdes por
uma gaja que achas que te vai dar uns fodões na cama, o mais certo é
seres usado para isso mesmo, ou então vais ter apenas uma mulher a
fazer a revisão ao clitóris. Vais ter gajas gastas a chamarem-te de
imaturo apenas porque lhes apontas a patologia conhecida como
sindroma da desafectação, que se caracteriza por uma mimese de
entrega só para justificar o facto de precisarem de foder. Efabulam
motivos para tu seres o escolhido, não te percas esses motivos não
são para ti, são para elas se convencerem a elas mesmas. Lê a
proposição número 1 e não tentes convencer das qualidades que ela
te imputa, aquilo é um monólogo.
Vários objectos
de estudo analisados já comprovaram este loop que é apenas sinal
que estás a falar demais. A ceder.
Quando isso
acontece coloca-te alerta, desliga-te do resultado.
A não ser que
estejas a experimentar, e nesse caso insiste para que a coisa morra
mais depressa.Porque vai acabar por morrer.
A seguir a uma
mulher vem uma mulher, o mesmo com um homem, há em quantidades
industriais. Não te prendas, nem te deixes cair na 'gasteza' em que
ficas presa ou preso aos astros do passado. Vai-te foder a vida
sexual e emocional no futuro.
Não tentes
resgatar o teu possível parceiro ou parceira com números de circo
ou flashes antes sendo melhor a deixares essas pessoas entregues à
sua própria 'maturidade', solidão, e desadequação de afectos. Eu
sei que parece cruel, mas pior que um traumatizado só dois, e se te
arrastas por lá muito tempo, vais ficar politraumatizado,
politraumatizada. A não ser que estejas a fazer um estudo, e nesse
caso já não há cura para ti.
Foge de pessoas
que não demonstram pensamento próprio, ou que são sobranceiras com
o teu só porque não faz parte daquilo que é fino achar de bom
gosto. Já o havia referido, mas vai-te neste caso obrigar a focar na
cona, porque é o que passa a importar mais já que náo é possível
obter conversas inteligentes não manipulatórias, ou realmente
sentidas. Quando a cona passa a centro de gravidade, perdes o
equilíbrio pois deves ler a proposição número 4, e não cedas o
teu poder a ninguém.
Perder tempo com
joguinhos de vingança, não deixa de ser perder tempo. Caga nisso.
Deixa cada um entregue à sua magnética personalidade. Dá um caldo
na tua cabeça se fraquejaste na tua vaidade e quiseste jogar o jogo
e fazer a análise do jogo. Apesar de não ser um erro porque no
mínimo revês matéria, é perda de tempo.
Acima de tudo,
deixa a pessoa com quem te envolveste, ou melhor ou no mínimo na
mesma, que quando a encontraste.
Não vale a pena
andar a criar por aí mais politraumatizados. Arranja uma desculpa e
um fingimento para terminar algo que nunca floresceu, especialmente
quando sabes que foi um jogo jogado a dois ainda que ela ou ele te
tentem convencer que são 'puros'. É perda de tempo, e cada um tem
direito a viver com a visão da vida com que se agrilhoou.
Não jogues jogos,
mesmo que estejas a fazer uma experiência científica. Vais acabar
por ter de arranjar um fingimento para te libertares de teia que
ambos teceram e fica sempr algo colado nos dedos.
Não jogues, mesmo
que gostes de estudar psicologia humana.
A biologia
evolutiva tem sido um campo de saber negligenciado, e seu estudo
pouparia alguma dor existencial, e reduziria o consumo de Prozac e
quejandos.
Isto implicaria a
dificílima aceitação de que a Metafísica é inexorável e que as
coisas são assim mesmo e não de outra maneira.
De forma mais
concreta a relação entre homens e mulheres revela claramente duas
forças que concorrem para o mesmo objectivo, mas que a individuação
revela como crueldade.
No cômputo geral
o mecanismo copulatório da população funciona, o indivíduo é que
o torna absoluto.
Por mais
interessante que sejam as nuances de indivíduo para indivíduo, no
meu caso de mulher para mulher, o acto sexual sendo negado tem uma
dimensão espiritual semelhante à do suicídio.
Para se nascer de
novo é preciso morrer primeiro, e assim sendo, cada escolho no
caminho se torna um degrau de luz em direcção à iluminação.
A maré disse-te adeus.
Tirámos aquelas fotos colados um no outro nas máquinas à la minuta no metro. Falsas figuras de nós próprios, na Quinta dos cavalos alugados tão longe.
Tracy Chapman cassete de músicas românticas numa cama não nossa.
Outros eus como pele de cobra para trás lançados no meio de nossas roupas espalhados pelo chão espelhados em rostos que se reflectiam e tu perguntaste se era só aquilo, num assomo de não saberes o que para mim significava tudo aquilo.
Diga-se de passagem, que contigo também nunca tive grande sorte.
Imprenhe de significado para ti, sempre no teu meio caminho a caminho de algum lar, apenas uma folha que ser árvore perde ocasionalmente.
Toda a gente vive como se jogasse o mesmo jogo, mas não se pode falar das regras.
É uma regra.
Susana, és um ser perdido em ti próprio sonhando que se perde em outros.
Os beijos que de mim saíram levavam o código postal do carinho mais profundo.
Desconfiados do número da porta ainda assim.
Nunca saberemos embora saibas porque pensas saber à boca cheia que conheces o Jogo, presa nos teus conceitos e certezas baseadas na tua interpretação das tuas experiências.
No fundo és como as sombras que tomam emprestada a sua existência de algo que lhes tapa a luz, e assim és mais rica em mim que nos dias em que acordas e te sentes tu.
Nas falsidades de ambos jogando o monopólio como crianças testa a testa nos testámos lábios nos lábios olhos nos olhos, fingindo não fingir o olhar com que nos olhávamos.
Jogando Uno em carruagens de comboio até à Covilhã.
Onde me custou a representação de corno bravo enquanto te carregava como saco de batatas inerte e vomitante, pelo ombro pela cidade abaixo. Achei deliciosas todas as tuas diabruras noite dentro, sem saber contudo como reagir.
Pensava apenas, que excelente caso de natureza humana muito além das minhas barreiras de protecção e separadores centrais. Nessa noite através de ti tive o encontro amoroso mais íntimo comigo próprio.
No meio dos teus olhos ébrios ainda te computando e analisando meu comportamento.
A mais genuína memória de ti, um hino.
Sob as sombrias nuvens de chuva, parei os olhos de lado, enchi o peito de ar, a ameaça de chuva eu não sabia como sair do deserto.
Talvez que o deserto não seja para que se saia, lá deambulando repetidamente até que por fim perceba que devia ter estado noutro lado qualquer.
Olhando, de baixo para cima, debaixo de ti para cima de mim sinto-me fora de mim mesmo espectador de mim próprio, ansioso de chegar ou estar não sei onde.
Mais bonita rosa quando tentas tocar com cada um dos pés em pontos cardeais opostos.
No meio da rosa dos ventos lasso-me quedando em calmaria, dormente em água tépida.